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As barreiras de acesso das mulheres à política persistem

Do corpo objetificado às fraudes eleitorais, as mulheres na política enfrentam cotidianamente uma cultura que lhes diz “não”
Ilustrações: Karynne Senna (@thekarynne)
Ilustrações: Karynne Senna (@thekarynne)

A participação ativa das mulheres na política é fundamental para a construção de sociedades mais democráticas e igualitárias. No entanto, ao longo da história do Brasil, as mulheres têm enfrentado barreiras estruturais e sociais para o acesso ao Parlamento.
Mas quais são elas? Às vezes perceptíveis, às vezes sutis – internalizadas como “naturais” –, estas barreiras estão presentes no cotidiano de todas nós. 

Papéis de gênero

Dentro da cultura tradicional de gênero, a sociedade vem atribuindo papéis historicamente específicos a homens e mulheres. Ainda hoje, meninas e mulheres são educadas a se restringirem ao espaço doméstico, deixando os espaços de poder e de representação política a cargo dos homens. 
Crianças culturalmente percebidas como meninos são estimuladas a se aventurarem – desbravar, correr, arriscar-se -; já àquelas vistas como meninas, estimula-se culturalmente a contenção – o “sentar-se direito”, a brincadeira do “cuidar” e do “ficar em casa”. Além disso, diz-se constantemente, às meninas e aos meninos, frases que não valorizam o estar no mundo das mulheres, tais como “chorar como uma menininha” ou “correr como uma mulherzinha”. fogãozinho e carrinho   

Autopercepção

A autopercepção das mulheres em relação às suas habilidades e qualificações é influenciada pela cultura de gênero. Muitas mulheres duvidam de suas habilidades e competências devido a estereótipos que as desvalorizam.
A síndrome da impostora é tão recorrente às mulheres que pode levá-las à desistência de concorrerem a cargos políticos. Mesmo quando possuem as habilidades necessárias para tanto, elas podem se autossabotar.

Old Boys Club

(Também conhecido como “Clube do Bolinha” – ou do “Charuto”)

A limitação histórica da participação feminina na política também se deve à existência do “Old Boys Club”, termo que se refere às redes informais de contatos e amizades formadas por pessoas do sexo masculino.  A fim de perpetuar uma cultura em que homens influentes ajudam outros homens, excluem-se, assim, as mulheres do cenário de poder. 
Aqui, as saídas para a cervejinha, o vinho ou o whisky, depois do turno de trabalho,  ou mesmo os convites para reuniões em ambientes nos quais o convívio é predominantemente masculino, configuram-se como cenário pós-oficial – pós-parlamento ou tribuna – de trocas, de discussões de bastidores, de estabelecimento de alianças e de combinações prévias de votações. Você se lembra do Clube do Poire? Não? Foi uma confraria de políticos poderosos. Eles se reuniam com Ulysses Guimarães para apreciar um raríssimo licor de pêra (poire) francês, enquanto falavam de política… 

Cuidados domésticos e familiares 

O acesso das mulheres à política também é afetado pela divisão sexual do trabalho. São elas as principais responsáveis pelo cuidado com filhos e filhas, pessoas doentes e idosas. Segundo a pesquisa Citizen Political Ambition Study, as mulheres que moram com maridos e parceiros têm probabilidade aproximadamente 7 vezes maior do que os homens de serem as principais responsáveis pelas tarefas domésticas. 

Fraude à cota de gênero

A trajetória da mulher na política é, ainda, marcada por obstáculos como a baixa arrecadação para as de campanhas (se comparada com a dos homens) e a desigualdade na distribuição do fundo partidário.

As barreiras de acesso das mulheres à política se agravam se o olhar contemplar as diversidades. As dificuldades são alargadas para aquelas com deficiência, negras e pobres.

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