Foi eleita? Baixe nosso Guia e construa seu mandato

Além do Guia, voltado a prefeitas e vereadoras, o projeto conta com mais duas cartilhas para candidatas

Com o encerramento da pesquisa De Olho nas Urnas – candidatura de mulheres e monitoramento da igualdade de gênero nas eleições de 2024, o caminho percorrido pelas(os) mais de 30 pesquisadoras(es) envolvidas(os) com o projeto vai se mostrando claro: elas(eles) captaram o movimento vivo do processo eleitoral brasileiro no que concerne às mulheres na política.

Entre os anos de 2020 e 2024, as estudiosas aventaram dados como a taxa de sucesso das candidatas (cerca de três vezes menor que a dos candidatos homens em 2020; e 2,5 vezes menor em 2024) e a importância do financiamento de campanha (a cada RS 1,00 a mais investido nas mulheres, aumenta-se, em média, 0,07 pontos percentuais a proporção de pessoas do sexo feminino entre as eleitas).

Além disso, foi medida a violência nos meses que antecedem as eleições ( em 2024, nos três meses antes do pleito, houve 104 casos de violência noticiados, contra 94 em 2020). As pesquisadoras avaliaram também o descumprimento do tempo de tela destinado às mulheres e às pessoas negras em todas as regiões do Brasil (dos dezenove partidos analisados em nove capitais, pelo menos doze descumpriram a proporção de tempo que deveria ser destinado às mulheres em 40% das cidades, com destaque para o PL, PV e MDB – 78%, 63% e 56% de descumprimento, respectivamente).

Valendo-se desses dados, isto é, cientes dos desafios, a equipe propôs um material adicional às notas técnicas e aos relatórios científicos gerados pela pesquisa. Trata-se de uma proposta lúdica que objetiva ajudar as mulheres em todos os processos pelos quais elas passam na política — de suas candidaturas ao mandato, passando pela forma de organização da democracia brasileira. 

Foram três manuais: uma cartilha orientativa para candidatas em suas campanhas eleitorais; outra que desnuda as formas de organização da democracia (vitais para que as mulheres possam crescer na vida pública); e a que vem a público agora, em agosto de 2025, que é um guia àquelas que conseguiram se eleger. 

Aline Hack, pesquisadora responsável pelo material, explica como se deu a produção do Guia e como ele pode ser aproveitado pelas vereadoras e prefeitas dos mais de 5 mil municípios existentes no Brasil. 

Quando vocês redigiram o material, qual foi a maior preocupação?

Aline Hack: Nossa preocupação foi criar um guia que pudesse contemplar mulheres eleitas em todo o Brasil, em toda a diversidade de territórios. Sabemos que cada casa legislativa possui diretriz própria mas, ainda assim, muitos desafios são parecidos para as mulheres, principalmente para as que iniciam seus mandatos pela primeira vez.

Quais são as principais dificuldades que uma mulher eleita enfrenta para construir o seu mandato?

Aline Hack: A primeira dificuldade da mulher é acreditar em si mesma e no seu potencial; a segunda é entender como funcionam o jogo político e as suas burocracias. Sabemos: quando uma mulher eleita toma posse, a primeira dificuldade é muitas vezes vencida. Por isso, criamos o material para ajudar na segunda dificuldade: queremos apresentar para as eleitas algo que possam consultar quando estiverem diante de desafios cotidianos, que vão desde a formação dos gabinetes  às propostas legislativas. Buscamos também reforçar caminhos já traçados pelos materiais anteriores, reforçando a importância de exercer o mandato livre de violência de gênero.

Essas dificuldades são iguais para todas as mulheres? O guia trata de todas elas?

Aline Hack: “Todas as mulheres” é muita gente, mas podemos dizer que muitas mulheres possuem dificuldades, podendo elas serem majoradas se consideramos raça, classe e território. É claro que, se a mulher tiver sido eleita pela primeira vez, muito provavelmente maior será a sua dificuldade, afinal, quem nunca fez algo pela primeira vez? Podemos dizer que o guia é voltado para toda pessoa eleita em sua primeira candidatura, mas tem foco especial nas mulheres, porque são elas minoria nas casas legislativas e mais suscetíveis de sofrer violência política de gênero.

O material será distribuído de forma impressa?

Aline Hack: O material, a princípio, será distribuído somente em forma digital, no site do projeto De Olho Nas Urnas. Mas, se angariarmos mais recursos, queremos imprimi-lo e distribuí-lo para as casas legislativas e para a sociedade civil organizada — para lideranças comunitárias, para associações de bairro, para líderes do campo, isto é, queremos fazer com que este guia e as outras duas cartilhas (essas voltadas às candidatas, e não somente às eleitas) cheguem em todo e qualquer lugar no qual haja uma mulher que, formal ou informalmente, queira se empoderar para estar na política

Como o Guia se articula às outras duas cartilhas que o Projeto entregou?

Aline Hack: Esse guia encerra o material pedagógico do projeto. Todos esses materiais buscaram contemplar as etapas e desafios para a candidatura de uma mulher. Enquanto nas primeiras cartilhas falamos sobre a corrida política e a importância da democracia, esse material procura agora dar ferramentas ao sucesso da candidata, que agora é uma mulher eleita pelo povo.

Deixe um comentário